sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

"Um dia" na sexta-feira treze

     Depois de um início de manhã indigesto, com resquícios no ar de uma briga densa e complicada com quem tanto amo, fui para a autoescola, última aula desta semana com a graça de quaisquer entidades divinas. Recebi com emoção todas as informações sobre como evitar acidentes e fui presenteada com máquinas amassadas, pessoas mutiladas e esmagadas, simulações de acidentes sem cinto de segurança, ou com o uso incorreto, etc. No final da manhã fiz um teste sobre o assunto e de 30 perguntas acertei 26. Foi uma manhã e tanto! 
     Tentei me distrair com "Um Dia", de David Nicholls, para me desvencilhar do recém conflito e das estatísticas de pessoas mortas no trânsito brasileiro e, com muito esmero, mergulhei na história de Emma Morley e Dexter Mayhew. Concluí, até aquela página: Dois imbecis, gastando o precioso tempo de suas vidas com outras pessoas desimportantes. Emma, repleta de insegurança, cansativamente sarcástica e preparadíssima para um domingo solitário, apenas com romances russos ou outros livros amigáveis. Frígida não por opção. Dexter, adorador do sexo, algumas drogas e TV, hedonismo em pessoa, não podia ver um ser feminino ambulante que já visualizava o potencial erótico que existia ali. Como poderiam pessoas tão diferentes se sentirem tão bem na presença da outra? Não se assustem com as aparentes queixas, o livro é uma delícia e, até agora (estou na metade), indico bastante: leitura rápida, personagens um pouco complicados mas divertidíssimos e, no entanto, nem tão profundos assim. Pelo menos até agora (é provável que eu chore em breve, justamente pelo gradativo aumento da profundidade de sentimentos). 

     Só sei que, ao sair, fui abordada por um dos alunos do curso de direção, de forma relaxada, sem interesses duvidosos. Estou anti-social esses dias (iniciei segunda-feira a autoescola), pois a leitura parece tão atraente e, por isso, acabo me excluindo das conversas, com meus fones de ouvido prontamente cantando pra mim. De modo que estranhei a aproximação, quase me assustei. Ele perguntou como eu iria para casa e eu quase achei que ele daria carona de carro, até pensei em fazer uma piada, mas achei desnecessário para uma primeira impressão. Eu geralmente sou engraçada demais nas primeiras impressões. Talvez pensem que sou louca, ou ignorante e alienada. Pois bem, acabamos descobrindo que íamos pelo mesmo caminho e, graças à gentileza, acompanhei o recém coleguinha. O início da conversa foi exatamente por causa de Emma e Dexter. Ele alegou que gostava de ler e perguntou o que eu estava achando de “Um Dia”. Falei o supracitado, e ele pareceu se interessar. Falamos mal de livros que têm capas de suas adaptações nos filmes e esclareci que o meu tinha a linda Anne Hathaway beijando docemente Jim Sturgess pois minha amiga não encontrou a capa antiga.

Beijo deveras bonito!
     “Pelo menos não parece Diário de uma Paixão ou Querido John”, pensei baixo para não cometer uma gafe. Ele parecia gostar desse tipo de romance.  
     Em um dia que já tinha começado mal, e que promete continuar até as duas magras partes se reconciliarem, conhecer alguém simpático, mesmo que por cinco minutos, foi bastante motivador. Dá uma vontade de continuar a partilhar suas paixões, dividir experiências e entrar em um mundo novo, não é? Ou, pelo menos, dá vontade de se sentir novo para alguém, um completo mistério, como um livro a ser lido pela primeira vez.
     Esqueci de perguntar o nome do rapaz, que se afastou a passos largos no momento em que os caminhos se separavam. Voltei para casa refletindo novamente sobre meu futuro e presente, inferindo, apesar de meu rígido ceticismo nas coisas: tudo é possível e tudo tem jeito, menos a morte, já dizia a Vovó. 

6 comentários

  1. Que lindo Line, tu escreve muito bem! Parabéns <3 Eu sou suspeita, mas você sabe que não me esforço muito pra agradar, então... Eis a verdade! ahah

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  2. Tô adorando esse negócio de blogs, diários de bordo, etc e tal!!

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  3. Acho que você deveria ter tentado a piada. Fiquei aqui rindo só de imaginar. "Há sempre uma maneira de salvar o seu dia" (QUEIROZ, V.)
    E não acredite nesse mito de que sexta-feira 13 sempre dá azar. :)
    :*

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  4. Eitchaaa... quando terei o prazer de ler seu primeiro livro??? Pelas palavras acima dá pra perceber que daria uma ótima escritora... adoro tu...

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  5. Hehehe, muito bacana conhecer pessoas novas né? Sou desse tipo, que SEMPRE esquece de perguntar o nome, e mesmo quando pergunto não lembro no próximo encontro e fico esperando (desesperadamente) que alguém o chame, para que eu não pareça um novo amigo tão ruim. Sofro de um pequeno problema de memória recente... nada que chega a me prejudicar, só a me constranger.
    Em relação à não gostar de capas de livros com capas de filmes, compartilho da mesma opinião. Procuro sempre a capa original. Filme é filme, livro é livro.
    Espero que logo você se livre desses resquícios... isso acaba com a gente né? Ótima semana.

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  6. Retribuindo a visita e CARAMBA! adorei isso aqui. Você escreve super bem. Das coisas simples consegue fazer com que nos sentimos mosquinhas nas tuas histórias vendo e ouvindo tudo :)

    Vou levar a indicação a sério e colocar o livro na listinha de compras ;)

    Beijo!

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Maira Gall