sexta-feira, 9 de março de 2012

Micro Choro


Ela se ajeita e, enxugando as lágrimas, começa a se desvencilhar dos braços dele para então vociferar:

Minto. 
Todo dia. 
Sabe aquela pergunta cretina que você faz? A que todos fazem? "Você está bem?" Sim, claro. É óbvio que estou incrivelmente bem.
O uso da palavra incrível foi claramente proposital pelo fato de eu respirar ironia. Entenda: Depois de você me cativar e me deixar, imediatamente em seguida - é bom salientar - significa que estou bem, só que ao contrário.
Não estou nada bem.
Não consigo ver meu erro, além é claro de quando me permiti. Deixei você entrar e bagunçar tudo. Agora está saciado e não sente mais amor. Nem paixão. 
Nem absolutamente nada. 
U m a p e d r a
Prometo não tropeçar outra vez.

Ele a retoma pelos braços e pede um último beijo.

Concluo, de soslaio: É da natureza humana ser cruel.

2 comentários

  1. Li. E me lembrei deste poema:

    LIRA DO AMOR ROMÂNTICO (Ou a eterna repetição)

    Atirei um limão n'água
    e fiquei vendo na margem.
    Os peixinhos responderam:
    Quem tem amor tem coragem.

    Atirei um limão n'água
    e caiu enviesado.
    Ouvi um peixe dizer:
    Melhor é o beijo roubado.

    Atirei um limão n'água,
    como faço todo ano.
    Senti que os peixes diziam:
    Todo amor vive de engano.

    Atirei um limão n'água,
    como um vidro de perfume.
    Em coro os peixes disseram:
    Joga fora teu ciúme.

    Atirei um limão n'água
    mas perdi a direção.
    Os peixes, rindo, notaram:
    Quanto dói uma paixão!

    Atirei um limão n'água,
    ele afundou um barquinho.
    Não se espantaram os peixes:
    faltava-me o teu carinho.

    Atirei um limão n'água,
    o rio logo amargou.
    Os peixinhos repetiram:
    É dor de quem muito amou.

    Atirei um limão n'água,
    o rio ficou vermelho
    e cada peixinho viu
    meu coração num espelho.

    Atirei um limão n'água
    mas depois me arrependi.
    Cada peixinho assustado
    me lembra o que já sofri.

    Atirei um limão n'água,
    antes não tivesse feito.
    Os peixinhos me acusaram
    de amar com falta de jeito.

    Atirei um limão n'água,
    fez-se logo um burburinho.
    Nenhum peixe me avisou
    da pedra no meu caminho.

    Atirei um limão n'água,
    de tão baixo ele boiou.
    Comenta o peixe mais velho:
    Infeliz quem não amou.

    Atirei um limão n'água,
    antes atirasse a vida.
    Iria viver com os peixes
    a minh’alma dolorida.

    Atirei um limão n'água,
    pedindo à água que o arraste.
    Até os peixes choraram
    porque tu me abandonaste.

    Atirei um limão n'água.
    Foi tamanho o rebuliço
    que os peixinhos protestaram:
    Se é amor, deixa disso.

    Atirei um limão n'água,
    não fez o menor ruído.
    Se os peixes nada disseram,
    tu me terás esquecido?

    Atirei um limão n'água,
    caiu certeiro: zás-trás.
    Bem me avisou um peixinho:
    Fui passado pra trás.

    Atirei um limão n'água,
    de clara ficou escura.
    Até os peixes já sabem:
    você não ama: tortura.

    Atirei um limão n'água
    e caí n'água também,
    pois os peixes me avisaram,
    que lá estava meu bem.

    Atirei um limão n'água,
    foi levado na corrente.
    Senti que os peixes diziam:
    Hás de amar eternamente.

    (Carlos Drummond de Andrade, in AMAR SE APRENDE AMANDO).

    ***

    Beijo,

    Mai!

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  2. Ai, que dor! Cruel é você que escreve essas coisas, rapaz. Doeu em mim. :x

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