quinta-feira, 3 de maio de 2012

O curioso olhar de Amy

Vocês já devem ter visto a notícia das belíssimas fotografias de Amy Hildebrand. Se você pesquisar no Google (queridíssimo de todo santo dia), vai achar diversos sites que recorrem ao seguinte título: "fotógrafa cega registra uma foto por dia" ou afins. Achei muito sensacionalista.

A história dessa americana de Ohio é emocionante e bastante vívida. Gostaria de humildemente me arriscar, contando o início dela (já que Amy está firme e forte nesse mundo) de forma um pouco mais detalhada e menos seca que as notícias que vi há um tempo.


Por causa de sua condição genética, Amy nasceu cega, e os médicos já trataram de entregar aos pais uma lista de coisas que ela nunca poderia fazer na vida. Essa poderia ser uma história predominantemente triste se as pessoas envolvidas quisessem dessa maneira. Mas aqueles doutores estavam errados. Por sorte, os pais de Amy também acharam isso, e buscaram todas as formas de ajuda para a filha albina. 

Ao longo de sua infância e adolescência, as visitas aos médicos ousados e cheios de vontade de fazê-la enxergar, deram resultados incríveis para quem não via nada. Por meio de tratamentos e cirurgias, ela foi capaz de enxergar, mas não plenamente. Explico: sua visão é distinta. A própria fotógrafa chama de “shadow vision”, como se apenas enxergasse sombras e leves contornos. A verdade é que nunca poderíamos saber como é ter o olhar de Amy, mas ela tratou de transformar sua misteriosa visão em arte.




A deficiência visual certamente não impediu Amy de seguir o sonho de ser fotógrafa. Aos 16 anos ela começou a se interessar pelos estudos da área. O seu medo de perder algumas memórias também incentivou essa paixão, segundo esse quote:
"I became obsessed with taking photos to document things I might forget". 
Sinto-me tão próxima a Amy, também fotografo por isso (mas eu realmente devo ter algum problema neurológico, assusto-me com a facilidade de esquecimento da minha mente)!

A paixão dessa estadunidense também gera os trocados no final do mês por intermédio da empresa Best Day Ever. Um diagnóstico de cegueira, quando mais jovem, e um diploma e trabalho de fotógrafa. Não é incrível? O site tem um design muito acessível e bonito, além de ser uma fofura. Considerei um ótimo exemplo de comunicação entre prospectos desse serviço, afinal, não estão sendo vendidos produtos concretos, como refrigerantes. São fotografias, momentos, memórias, sentimentos eternizados. A comprovação disso está na frase que vem após o nome da marca (Best Day Ever): We wanna be there with you. Simples e genial. E com corações vermelhos, oun!



Há, ainda, seu projeto de 1000 dias. Ela começou em 2009 e agora está terminando. Aquele desafio básico: todos os dias fazer uma imagem - alguém, além de mim, lembrou do #365project? E quem, além de Amy, encara um projeto diário que objetiva mil fotografias no final? O resultado varia de acordo com o comprometimento com o projeto, por exemplo, nas fotografias de Amy, você consegue perceber o crescimento dos filhotes dela. Isso não é admirável? 

Bastante expressiva, Amy fotografa os momentos que vive e que sente (me identifiquei de novo, dona Amy). O incrível é que a sua forma de enxergar o mundo é aproveitada diretamente em seus trabalhos. A citação da Amy que resume isso diz:
"Nem todos os meus dias serão bons, nem todas as minhas fotos serão boas, mas elas irão me refletir".
Bom, minha querida Amy, então sua vida é fantástica praticamente todo dia, mesmo com os prováveis perrengues.






Fazer a seleção de quase mil fotos é bastante difícil para quem não tem tanto tempo (hello, everybody!) e, sobretudo, quando a maioria das fotos consegue persuadir suas escolhas e aquecer seu coração. Achei interessante a qualidade e o quanto as fotos dizem sobre os dias de Amy. De maneira decrescente, vi quase a metade do projeto, vendo até a 560º imagem.







Essa fotógrafa, mãe de Alice e Little Man (os apelidos dos maravilhosos filhotes) e esposa de Aaron (que conheceu na faculdade de fotografia, naquelas salinhas escuras de revelação, hum) virou uma espécie de exemplo vivo para mim. Mesmo com suas limitações visuais, ela conseguiu a façanha de exercer um trabalho invejável (e rentável, detalhe) que tem como premissa justamente um dos seus sentidos limitados. Aliás, acredito que limite não seja uma palavra muito usada no vocabulário de Amy. Deve estar mais presente nos laudos médicos desesperançosos.


Senti uma alegria tão grande com a história que tentei entrar em contato com ela. Escrevi um e-mail curto pois pensei que assim eu tivesse mais chance de ser lida e respondida. Elogiei o trabalho e sua paixão pela arte, e depois perguntei algo mais técnico como se ela usava algum equipamento especial para as fotos. Para minha surpresa, em menos de duas semanas recebi uma resposta delicada e meiga da artista desses retratos (destaquei em negrito alguns pontos motivadores):


Hi Aline,
No, I don't use anything special really. I guess if there is one tool I use to help aid me in my decision making during shooting it would probably be a loop. Loops are normally used to look at negatives on a light table, but I have found it useful on so many different occasions. I had to buy it back in college for my first photography class and ever since then it has been in my camera bag! 

I was born blind, but over time, with the help of doctors and surgeries, I have regained some sight, making me still legally blind, but not completely blind as I once was. I feel that I can see well, but that is purely because I know no other way! So, I have adapted to my visual condition and have learned to live around it. With my camera I learned how many clicks of the dial will take me to whichever f-stop or shutter speed I am wanting, and I am able to see the light meter within the viewfinder to know when something is correctly exposed. I guess you could say I have come up with little tricks on how to get around my condition :)

Hopefully that helped explain things more!
All the best,
Amy

Não é de se inspirar?

16 comentários

  1. Sabe aquele momento em que se fica de boca aberta, sem palavras para descrever alguma coisa? Então, pensei bastante e ainda não consegui encontrar palavras, rs.
    Coisa linda! Achei a história linda, as fotos mais ainda. A história dela prova que não somos obrigados a nos prender àquilo que nos é imposto. Desejar e fazer sempre algo acima das expectativas alheias, e mais ainda, das nossas próprias expectativas. Não sei se me expressei bem, mas vale a tentativa, erm.
    Acho que encontrei o melhor post do seu blog até o momento ^^

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  2. Deb, é mesmo! Senti-me tão motivada, sobretudo por causa da ligação dela com a fotografia. Fica aquela mensagem: tenta ir atrás do sonho. Tenta que dá!
    Awn, obrigada! Não sabe o quanto fico feliz ^^!

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  3. que linda! eu nunca tinha ouvido falar dela antes, mas até aí é normal, já que ultimamente eu sou a pessoa mais desatualizada da galáxia. e apesar de ser uma história de superação, não tem aquele peso, de sensacionalismo, ela fez o corre dela, era isso que amava, fez acontecer. todos nós temos nossas limitações e o que nos distingue um dos outros é justamente como o superamos, e nossa! AMY WE LOVE YOU!!! rs. sério, eu adorei a maneira como ela fez isso! e até juntou um pouquinho de lágrima no canto dos olhos, quando li "Nem todos os meus dias serão bons, nem todas as minhas fotos serão boas, mas elas irão me refletir". lindo lindo!

    e ó, eu não sei da onde é aquela frase não hein?! mas ao procurar no google, achei algo como "a última dose", daí não sei se é algum conto do Caio F, porque parece bem com as coisas que ele escrevia, mas não sei se é. pesquisarei mais, uma hora surge o nome e eu lhe digo.

    adorei a citação do Philip Larkin que tu fez, motivador define.

    ;*

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  4. Oi,
    adorei a história dela de superação, mesmo. Adorei as fotos, lindas, mesmo. E o que mais vejo agora é histórias do tipo, de superação. De pessoas que ultrapassaram barreiras e tal. Adorei o post ^^

    Bjs, tem post novo no meu blog (:
    http://darkening.freetzi.com/

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  5. Caramba, que fotos lindas. E a história então, sem comentários. É muito bom ver casos de superação como esse, pra nos fazer sentir na pele o quando somos mesquinhos por reclamar da vida.
    E que linda, respondeu seu e-mail! Imagino como você deve ter surtado, rs.

    Não tiro muitas fotos, primeiro porque não tenho uma câmera, só o meu celular. Mas quando eu tiver uma, mesmo que seja uma digital bem furreca, ta aí algo que eu gostaria de fazer. Não fotos minhas, como muitas pessoas fazem. Mas fotos de momentos, lugares e sentimentos que eu gostaria de guardar.
    Como disse a Amy: "I became obsessed with taking photos to document things I might forget".

    Minha péssima memória e minha obsessão por relembrar coisas antigas (fico horas lendo meus velhos diários, e isso é tãaaao bom!) são motivos pelos quais eu adoraria começar a fotografar.

    E sobre seu comentário lá no post da educação, concordo totalmente contigo. É a pura verdade: uma população ignorante e mal instruída é muito mais fácil de "manipular". Basta pensar: o brasileiro, quanto mais modesto, mais é acomodado e se interessa pouquíssimo por política. O resultado está aí.
    A única forma de fazer isso mudar é conscientizar a população, e isso só vai acontecer no dia que tivermos uma educação de qualidade. Educação mesmo, não só ir pra escola e ta tudo bem.

    Beijo (e desculpa por esse comentário enorme),
    muggle-world.blogspot.com

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  6. As fotografias dela são lindas. Eu já havia visto em outros sites e tive a mesma impressão de sensacionalismo na maioria dos títulos, talvez, por esse motivo, eu tive certo preconceito em analisar melhor a vida da fotógrafa, como também o seu trabalho. A sua postagem ficou muito boa. Parabéns ;)

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  7. AMEI, AMEI, AMEI o teu post!! Eu já tinha lido várias reportagens sobre ela, e sempre achei essa história linda e admirável! Adorei saber um pouco mais sobre a história dela, e depois do teu post passei a admirá-la ainda mais. Mesmo com suas limitações visuais, pra mim, a Amy enxerga melhor do que muita gente, porque enxerga coisas simples e tem o "olhar" de perceber o quanto aquilo é bonito e transformar em uma foto e imagem maravilhosa e inspiradora.
    Gostei muito de saber o motivo pelo qual ela começou a fotografar. É um dos motivos pelos quais eu adoro fotografia, elas podem, de algum modo, te levar ao passado e te fazer viver e lembrar de novo vários momentos e até sentir de novo como se estivesse vivendo novamente.

    Enfim, parabéns à Amy e parabéns a ti pelo post!
    Beijos,
    Clarisse
    www.fashionistaloves.com

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  8. Que bonita essa postagem, Aline. Curioso o teu olhar sobre a vida dela. :) Engraçado que a leitura flui tão bem quando eu te leio... nem sinto haha
    Não tinha ouvido falar dela e nem do trabalho, mas amei as fotos, são admiravéis! (como você disse) e gostei de conhecer a vida dela.
    E olha aí, entra nesse projeto de 1000 fotos, que nem ela haha
    :*

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  9. primeira vez que ouço falar dela. e amei a história de superação.
    adorei as fotos, ninguém diz que a visão dela é limitada.

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  10. Céus, amei as fotos, amei a história dela.. é emocionante.. sei lá, uma dose de motivação e inspiração.

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  11. Pessoas assim só podem ser presentes para nós, sério! Que inspiradora! Nós, com nossos olhinhos perfeitos, reclamando de tudo e de tão pouco, enquanto ela, com suas limitações, fazendo esse trabalho tão lindo. É realmente de sentar e pensar em como a vida tem sido desperdiçada com coisas tão banais! O site Best Day Ever é mesmo uma graça, assim como as fotos de Amy. Nem sei como você conseguiu selecioná-las! E que fofa ela te responder! Isso só mostra o quanto ela é uma boa pessoa. =]
    Beijo! Boa semana! o/

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  12. ENCANTADORAS as fotos!
    Amy nos inspira a acreditar que tudo pode ser possível com o apoio de quem nos ama e com muita força de vontade, e ainda nos presenteia com tamanha beleza vinda de suas fotografias! Me identifiquei especialmente com a parte em que a moça diz que há um reflexo seu em suas fotos. Ela tem a alma de uma verdadeira artista.

    Beijos!

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  13. MARAVILHOSO. O post e as fotos. Já tinha visto o trabalho dela, acho que justamente graças a uma dessas matéria que você citou. Mas a forma como você escreveu deixou tudo ainda mais fantástico. Sério. Lembro que quando vi, fiquei até indignada como os jornalistas tinham descrito tão mal a situação... E agora vejo um post cheio de sentimento pra uma coisa que é também assim. :)

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  14. Estou encantada com a história da Amy, com as fotos dela e com a forma como você mostrou essa história p/ gente. Parabéns! Tenho que divulgar esse post no twitter, rs.

    Pessoas como a Amy acabam mostrando que não devemos jamais desistir dos nossos sonhos, nem deixar que os nossos problemas se tornem maior do que a nossa capacidade de superá-los.

    Estou aqui lembrando que não conseguir levar p/ frente o meu projeto 52 weeks (imagine 1000 dias? :O), rs.

    "Nem todos os meus dias serão bons, nem todas as minhas fotos serão boas, mas elas irão me refletir". Gostei muito disso.

    Beijo, moça

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  15. Jolies photos!
    Angela Donava

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  16. Gente, que ahazo que essa Amy é, não é não? Adorei sua forma de contar isso pra gente. Amy decidiu abdicar do oh-poor-girl e viver. E é preciso MUITA coragem para viver, ainda mais com limitações.

    Faz pensar na nossa falta de vergonha diária em procrastinar aquilo que sabemos que podemos fazer bem.



    Beijo, minha linda!

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