terça-feira, 9 de abril de 2013

"Se tu soubesse, não amaria mais ninguém"

[Conto inspirado a partir da música "Pelo Interfone", de Cícero. Convite feito pelo André, do Blog QMD]


Ainda é difícil olhar uma foto sua. Prefiro não ver. Nem ler suas emoções naqueles vídeos ébrios que ainda tenho guardado. Nem suas histórias inteligentes. Seu sorriso, enorme e cheio de dentes, parecia puro e não apresentava mal nenhum, ao menos naquela época. O seu argumento, sempre falho quando falava de si mesmo, sempre correto quando falava de quaisquer outros assuntos, faz muita falta. Não o bastante para conseguir tocar novamente seu rosto, e não pensar no mal que me fez (que me faz, esporadicamente). A dor e a amargura que ainda moram no meu peito não crescem mais, graças a Deus, mas permanecem ali, prontas para serem relembradas. Não há médico no mundo que consiga extrair aquela coisa ruim.  

Por vezes acho que preciso de você - me acalmando e dizendo que tudo vai ficar bem, criando oportunidades e mostrando que a vida não é só o que minha mente pessimista vislumbra, e sim que vai muito além do meu egoísmo repleto de sofrimento estreito, estúpido, infantil. Mas as lembranças, aquelas que escapam vez ou outra, sempre dilaceram minha alma e me distanciam de você. Sou fraca, você sabe, sempre soube. O bem que você me fez, frequente e quase diário, se perdeu em algum lugar no instante em que houve o desapontamento. Aquele momento difícil no qual você me ensinou a viver sem criar ilusões das coisas e pessoas. Sem criar a ilusão de rótulos de amizade, amor e ódio. Rótulos não passam de truques da nossa mente, a verdade é bem mais complexa.

Com você, aprendi a não amar mais ninguém.


4 comentários

  1. Ficou muito bom esse texto, adorei!
    você escreve muito bem :)

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  2. Muito bom o texto!
    "Com você, aprendi a não amar mais ninguém." Acho que a maioria já passou por isso, não é mesmo?
    Beijos,
    Nataly Nunes
    http://critiquinha.com/

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  3. Quando é amor mesmo a gente não deixa de amar. É pra sempre e um pouco mais. A gente até se decepciona, vai lá fundo, do poço mesmo, mas depois de um tempo, sem mágoa, angústia, ah você lembra, sempre se lembra. Porque o que conquistou o seu amor ainda está ali, é, magoa, e é frívolo, tem vezes, mesmo assim amor não se perde, só encontra um caminho oculto, latente. E é assim com todos os outros.

    Amei seu texto.

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  4. Mais contos, por favor. Já disse que você escreve bem antes, mas agora lendo o seu texto, lembrei de uma "aula" sobre escrita do Neil Gaiman em que ele diz: "coloque uma palavra depois da outra, ache a palavra certa e a coloque ali." (algo assim, se minha memória me ajudou) Você faz isso de uma maneira objetiva, deixando o texto cru, simples, embora bastante contundente e sentimental. Puro amor. <3

    Cícero é lindo.

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