segunda-feira, 4 de março de 2013

{Book Tour} As vantagens de ser invisível


Aqui estou finalmente escrevendo sobre um amigo fictício. Bom, tentei dividir a postagem para ninguém se perder nesse mar de pensamentos e, por causa das divisões, vocês podem ler separadamente cada tópico, se quiserem. Mas tudo segue uma ordem, tá? Ou seja, é preferível ler tudo, he. Ah, gostaria de mandar um beijo especial para a Amanda, da Revista 21, e para todos os realizadores desse site genial. Aos demais leitores do blog, espero que gostem do conteúdo visível e invisível de hoje. E também espero que estejam todos bem. Obrigada!

*Importante: Nesse post, não estou explicitamente descrevendo o final, nem partes relevantes do decorrer do livro. Porém, obviamente escrevi alguns detalhes da história, como citações, dicas de filmes, livros, bandas e, é claro, minha percepção acerca das cartas de Charlie. Lá para o finalzinho terá um texto com spoilers devidamente indicados. Boa leitura!

SOBRE O BOOK TOUR

Eu nunca havia participado de um book tour antes. Na verdade, minha ignorância era grande a ponto de nunca ter ouvido falar. Quando a Revista 21 postou sobre isso, não hesitei em tentar a sorte. Houve um sorteio e, surpreendentemente, fui escolhida como a primeira a começar a leitura de As Vantagens de Ser Invisível, de Stephen Chbosky - mais nove blogueiros estão nessa jornada. O que me fez preencher o simples formulário foi a ideia do livro viajante ser uma divertida forma de incentivo à leitura,  o qual é intensificada pela integração entre os dez leitores, já que cada um deverá escrever sua percepção do livro. Achei tão legal o estímulo que penso em comandar, futuramente, um book tour com algum livro da minha humilde estante.

SOBRE O RECEBIMENTO DO LIVRO VIAJANTE

Como moro na mesma cidade de uma das redatoras da Revista 21, combinamos de trocar o livro sem intermédio dos Correios. Eu estava em casa, concentrada no home office, com cabelos rebeldes e despenteados, quando o telefone me assustou com o toque da Samsung - que eu nunca troco. Atendi e falei rapidamente para a voz masculina que desceria para apanhar a história. Cheguei ao térreo (minha casa fica no primeiro andar) e vislumbrei uma pessoa de verdade que, para mim, costumava ser um personagem de ficção, da vida escrita de Amanda, do Maças Verdes (que está fora do ar, como assim, produção?). Foi um sentimento engraçado e confuso, como se a realidade e ficção fossem uma coisa só, sem a costumeira linha tênue. Obviamente, no caso supracitado, a realidade e ficção eram mesmo uma coisa só, partindo da premissa de que o rapaz realmente existe, e Amanda sempre deixou claro a veracidade do que escrevia em seu blog. Mas a minha percepção não era exclusivamente assim. Entendeu? Bom, de qualquer forma, acho que deixei Wesley, noivo da Amanda, meio sem graça por comentar que o conhecia de crônicas, he. Ah vai, eu acharia legal ser reconhecida por aí.

No momento da troca do livro, pensei sobre "a realidade e ficção serem uma coisa só" justamente por causa da influência da leitura de As Vantagens de Ser Invisível, mais precisamente na parte do epílogo, em que tive um insight. Entendam: é que eu li o livro antes de a Revista 21 me mandar o viajante, pois tinha comprado o exemplar no ínterim do sorteio, divulgação dos participantes e recebimento. Além do mais, eu nunca acredito que posso ganhar sorteios, então a descrença na sorte me fez começar a devorar sobre o que Charlie - personagem principal - escrevia, antes mesmo de saber que teria a oportunidade de participar do book tour. Sobre esse insight, senti a estranheza de estar sendo vista por alguém, e a familiaridade de conhecer essa pessoa recaiu sobre minhas costas. Conhecer especificamente o próprio Charlie. Parece estupidez, mas a verdade é que senti uma conexão sem precedentes com o personagem, e ele estava ali, invisível, me observando. Senti isso na sala de espera do consultório do médico do coração, onde finalizei a leitura em meio a calafrios.


SOBRE "THE PERKS OF BEING A WALLFLOWER"

Para começar, o título original é esse aí de cima. O livro parece recente, provavelmente pela estreia do filme inspirado nele, mas é de 1999. A edição brasileira, no entanto, é de 2007. Essa literatura infantojuvenil traz um amontoado de cartas cronológicas escritas por Charlie - o garoto mais sensível que você conhecerá -, que escreve sinceramente sobre suas experiências, sensações, necessidades e vontades, para um destinatário que Charlie prefere manter em segredo. A história se passa em meados de 1991, e por isso cita diversos músicos da época. O livro é relativamente curto, com apenas 223 páginas, e é apresentado com 4 partes e epílogo. A citação "Eu me sinto infinito" vai marcar sua leitura com a primeira página, e a interpretação vai melhorar ao longo da história, assim que essa página se repetir. As 4 partes tratarão de um universo riquíssimo de assuntos, sentidos e vivenciados por Charlie. Traumas infantis, dramas familiares, suicídio, crises próprias da juventude, medos e experiências novas são alguns pontos descritos.

Um paradoxo que encontrei no livro, bem no início, foi um dos que mais me identifiquei: "Sou feliz e triste ao mesmo tempo". E é exatamente assim, como uma montanha-russa, que a vida de Charlie é mostrada ao longo dos meses.

SOBRE A CULTURA DO LIVRO

Como eu estava lendo para escrever uma resenha, saí anotando tudo o que acharia importante citar na postagem. Quando finalmente cheguei na última página do livro, percebi o quão importante foi ter rabiscado no "Organizer Memo Book" da Tilibra. Gostaria de criar essa rotina, mas sei da minha fome pelas histórias dos livros e o quanto isso dificulta o processo parar-para-escrever-rapidamente-algo-relevante-num-bloquinho. Risquei diversas folhinhas do bloco e percebi o quanto o livro estimula o leitor a ampliar sua bagagem cultural, por meio da menção de livros, filmes e músicas famosas da época. Poucos eu já conhecia e gostava, outros muitos estão sendo adicionados nas minhas redes sociais para não se perderem no limbo do esquecimento. Por conta  dessa peculiaridade, resolvi listar para vocês as referências encontradas no livro As Vantagens de Ser Invisível. Vai ficar mais fácil para ampliar os conhecimentos depois, no tempo de cada um. A margem de erro acobertará os momentos que não quis parar para escrever a dica do autor/esqueci de parar/não achei importante parar para escrever. Mas relaxem, a margem de erro foi seguramente baixa:

- Referências cinematográficas

1. Seriado MASH;
2. O barco do amor;
3. A ilha da fantasia;
4. A felicidade não se compra;
5. Os produtores;
6. A primeira noite de um homem;
7. Ensina-me a viver;
8. Minha vida de cachorro;
9. Sociedade dos poetas mortos;
10. A incrível verdade.

- Referências de livros

1. O Sol nasce para todos, de Harper Lee;
2. Este lado do paraíso, de F. Scott Fitzgerald;
3. Peter Pan, de J. M. Barrie;
4. O Grande Gatsby, de F. Scott Fitzgerald;
5. A Separate Peace, de John Knowles;
6. The Mayor of Castro Street, de Randy Shilts;
7. O apanhador no campo de centeio, J. D. Salinger;
8. Walden, de Henry David Thoreau;
9. On the road, de Jack Kerouac;
10. Naked Lunch, de William S. Burroughs;
11. Hamlet, de Shakespeare;
12. E. E. Cummings (escritor);
13. O estrangeiro, de Albert Camus;
14. The Fountainhead, de Ayn Rand;
15. A noite dos mortos-vivos, de John Russo.



- Referências musicais 

Reuni praticamente todas as músicas do livro em uma lista de reprodução muito amor. Só não consegui achar Daydream, dos Smashing Pumpkins, no Grooveshark. Enjoy!

1. Asleep, de The Smiths;
2. Blackbird, de The Beatles;
3. MLK, de U2;
4. Landslide, de Fleetwood Mac;
5. Laser Light Show, do Pink Floyd;
6. The Rocky Horror Picture Show (a peça);
7. Village People;
8. Blondie;
9. Nirvana;
10. Vapour Trail, de Ride;
11. Scarborough Fair, de Simon & Garfunkel;
12. A whiter shade of pale, de Procol Harum;
13. Time of no reply, do Nick Drake;
14. Dear prudence, dos Beatles;
15. Gypsy, da Suzanne Vega;
16. Nights in white satin, dos Moody Blues;
17. Daydream, dos Smashing Pumpkins;
18. Dusk, do Gênesis (antes do Phil Collins!);
19. Something, de Beatles;
20. Billie Holiday;
21. Broken Wings, de Mr. Mister;
22. I'm going home, de The Rocky Horror Picture Show;
23. Another Brick in the Wall, Pink Floyd - parte II.


SOBRE A HISTÓRIA [ATENÇÃO: SPOILERS SUTIS]

A narração é do próprio Charlie, garoto deveras solitário, e a partir da confiança que ele deposita no destinatário anônimo, revelações da sua vida particular são feitas por meio das cartas que ele sempre envia. Diante da necessidade de participar mais e fazer novos amigos na escola (ambiente de início hostil), Charlie conhece Patrick, divertido veterano da sala de "trabalhos manuais" [que inveja das escolas americanas!], e a partir dele conhece Sam, a meia-irmã de Patrick e a garota pela qual Charlie rapidamente se apaixona [minha gente, tá pra nascer alguém fofo e ingênuo como esse personagem ficcional!]. A partir dessas amizades, Charlie se depara com um universo de novos amigos, novas rotinas, novos lugares, inéditas drogas e principalmente experiências, como primeiro encontro, primeiro beijo. A parte mais hardcore do livro trata de assuntos polêmicos, e isso foi o que mais me encantou, já que eu comecei o livro com pouca fé, achando que seria meio bobinho. Aborto, homossexualidade, sexo, drogas, violência física, sobretudo em mulheres, abuso infantil e suicídio são temas abordados que incitam a reflexão de cada um. É incrível como ele é sensível a ponto de achar natural temas como a homossexualidade, e como ele é ingênuo a ponto de não perceber uma carta suicida. A sensatez também é vista quando ele decididamente não concorda com a violência que eventualmente sua irmã sofre com o namorado, já que ele lida querendo defender a irmã mais velha. Mas Charlie é, na maioria das vezes, uma pessoa que não se posiciona, não toma iniciativas e que aceita algumas situações apenas por não conseguir se expressar. Patrick diz: "Você vê as coisas. Você guarda silêncio sobre elas. E você compreende.”.

Os anos narrados são 1991 e 1992, e no decorrer da história, é perceptível a evolução da maturidade de Charlie, frente a tudo o que ele viveu. Além dos acontecimentos da vida dele, pode-se dizer que Charlie vai sendo lapidado pelo seu professor de inglês (Bill), o qual dá livros clássicos para o aluno durante todo o ano letivo. É legal a transformação da simples relação de aluno e professor para a de amigos, já que o professor acredita, escuta  e aconselha Charlie. Mais legal do que é isso são as diversas dicas de literatura estrangeira que você decerto ainda quer ler antes de morrer. Uma das citações que mais gosto no livro é feita pelo professor Bill, quando ele prevê que "A gente aceita o amor que acha que merece.". Adicionei a citação à foto que tirei em Curitiba, no Jardim Botânico. Lá, todas as plantas têm seu nome numa plaqueta, e essa florzinha amarela se chama "amor-perfeito". É ousadia demais ter essa citação nessa flor?


Já para o fim, o interessante do mistério do destinatário é que, no epílogo, eu tive a inédita sensação de conexão com o livro, já que eu me tornei o destinatário de Charlie, com a ajuda da minha percepção e imaginação. Achei, no mínimo, mágico. Sério, fiquei muito emocionada e até chorei com os calafrios que senti. Em outras palavras: pareci o Charlie afetado e sentimental, haha. E por isso que eu adorei esse livro - parafraseando a ideia inicial de Charlie: tão simples e tão complexo ao mesmo tempo.


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Maira Gall